10/02/08

O Sonho

Perdido no tempo, já não ligava ao passado, não vivia o presente e não se preocupava com o futuro.

André vivia sozinho, desligado do mundo e perdido da vida.

Vida, ao vê-lo assim abandonado, não pôde deixar de reparar no seu olhar tristonho, como se lhe tivesse falhado um sonho. Um sonho de uma vida, que se desvaneceu com a esperança de uma concretização falhada.

O amor tinha passado a seu lado, mas André não o viu chegar e quando deu conta do que aconteceu já era demasiado tarde para conseguir agarrar esse amor e mantê-lo perto de si.

Daí em diante, os seus olhos tornaram-se tudo aquilo que são hoje: tristes, sem qualquer brilho e alegria de viver.

Vida, sem perceber o que se passava com André, seu grande amigo de infância, não conseguia vê-lo ter pena de si mesmo e a deixar escapar oportunidades únicas de realizar outros sonhos que sempre teve. Por tudo isso, sempre que se encontravam, tentava saber o que tinha deixado André tão amargurado, mas ele nada dizia. Chegaram mesmo a cortar relações.

Quando Vida já tinha dado tudo por perdido, André convidou-a para jantar. Vida aceitou o convite e foi ter com ele.

Quando chegou, voltou a ver André no mesmo estado e com o mesmo olhar e durante o jantar deixou que fosse ele a conduzir a conversa. Depois de muito ouvir falar sobre banalidades, aproveitou a deixa do 'tempo' para dizer a André que já era tempo de ele contar o que tanto o estava a afectar. André desviou o olhar e não disse uma palavra.

Vida levantou-se e encaminhou-se para a porta. Quando estava prestes a sair, André, num turbilhão, contou-lhe tudo sobre o amor do seu sonho que se tornou realidade, mas que lhe passou ao lado.

Encostada à porta, Vida disse que o compreendia, ela própria já tinha passado pelo mesmo quando descobriu que o amor que sentia por André não poderia passar de um sonho falhado e, olhando-o nos olhos, disse que era chegado o momento de partir em busca da realização de outro sonho, pois ninguém deve ficar preso a um sonho que não se realizou e a um amor que passou.

Ouvindo tais palavras, os seus olhos voltaram a sorrir, como se a luz da esperança o tivesse atingido, dando-lhe força para recomeçar a sonhar.

Vida ficou feliz e André, com um terno e caloroso olhar, agradeceu.

Vida agradeceu também aquele olhar com um meigo abraço e, nesse instante de harmonia, ambos compreenderam que, apesar de tudo parecer insignificante quando um sonho se perde, o amor e o carinho de um olhar amigo é reconfortante, pois consegue indicar o caminho para outro sonho que se ergue.


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