21/02/08

Carta de Desabafo (2)

É quase domingo, as horas que são, ao certo não sei. Tenho uma relógio mesmo em frente aos olhos, mas não quero ver. Os sinos da igreja insistem em tocar, mas não quero ouvir. Sei que é a hora, a hora certa para dizer o que sinto, pois chegou o momento de seguir em frente.

Há oito meses, começou uma etapa da minha vida que não queria ver terminar. Não sabia o que ía ser e só queria viver o momento, sem pensar no antes e no depois.

Tudo aconteceu muito depressa - o princípio, o meio e o fim - como num conto de fadas.

Não sabia o que se passava entre nós. Gostava de estar contigo, de sentir o que sentia contigo, mesmo sem perceber o que era. Estava feliz e isso bastava-me. Dava-me confiança para seguir em frente.

Nunca me tinha exposto tanto a alguém sem razão aparente. Não sabia o que sentia por ti e esta foi a razão para continuar a teu lado, mesmo quando soube o que sentias por mim - não era amor.

Acho que o medo do desconhecido e do arrependimento de não fazer as coisas é que me levaram a seguir em frente. Apostei na nossa relação, porque sentia que controlava a situação. Mas a vida tem destas coisas...

Sem sequer bater à porta ou ter convite para entrar, fui surpreendida pelo amor e quando dei conta desorientei-me. Não te consegui dizer o que sentia, mesmo quando me perguntavas, e não estava preparada para que fosse assim - um sentimento tão invasivo que nos domina totalmente.

Não sei se acreditas no que sinto porque nunca te disse. Quer dizer... Nunca usei palavras, mas os meus actos sempre denunciavam o que nós os dois, no início, e, mais tarde, só tu, teimámos em não acreditar.

Contigo aconteceu o que achava ser impossível: perder o controlo dos meus sentimentos. Fui invadida por um sentimento forte. Nunca pensei que pudesse sentir um amor tão forte por alguém.

Tu e eu somos dois seres completamente opostos, mas o que eu encontrei em ti e o que tu trouxeste para a minha vida possibilitou-me um ponto de equilíbrio emocional que eu achava não existir. Deste um pouco de desordem à minha vida, apresentaste-me um mundo novo, onde sentimentos e emoções oposto convivem lado a lado e até se sobrepõem, e ensinaste-me uma nova forma de estar na vida.

Aprendi a amar-te com todos os teus defeitos e feitios, o que nem sempre foi um mar de roas. Aprendi a conhecer-te através das tuas atitudes. Aprendi o teu código e consegui decifrar a tua linguagem. Isso foi algo que me deu muito prazer. Não imaginava que houvesse e que eu conseguisse descobrir uma pessoa tão diferente de mim e com a qual encaixava tão bem.

Infelizmente o meu sentimento não foi correspondido. Durante algum tempo tentei combater isso, até criei um mundo de fantasia onde tudo corria sempre bem, numa tentativa de manter a nossa relação. Tentei arrastá-la até ao limite.

A única coisa 100% verdadeira que construímos foi uma forte relação de amizade. E quando terminámos senti um medo tremendo de a perder. Foi muito difícil para mim pensar que ia perder tudo isso.

Sentia-te a fugir e cada vez mais distante de mim e sabia qual era o destino desta nossa viagem: o fim. Apesar disso, não tive tempo para me preparar, acho que até não queria. Foi tudo tão rápido que quando me dei conta do que se estava a passar, já tinha passado. Foi triste, foi como se o chão me tivesse sido tirado debaixo dos pés sem qualquer aviso. Senti-me perdida e vazia, não consegui reconhecer a pessoa que eu era e isso foi o que mais me custou. Uma parte de mim perdeu-se e pensei não conseguir viver assim nem mais um dia.

Entretanto, um dia passou, depois outro e mais outro, e já consegui organizar os meus sentimentos o suficiente para poder seguir em frente e iniciar uma nova etapa, dizendo-te (porque tenho que te dizer) ADEUS!

Fui até ao fim? Não sei. O tempo o dirá. Só sei que já é domingo, sinto-me um pouco mais feliz e já é outro dia...


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