26/12/08

Li Num Livro... E Gostei (4)

«Quem és tu?, tento murmurar, mas estou num quarto vazio, sem ninguém, porque vi pelas nesgas dos seus olhos que nada havia por detrás - nada que eu pudesse reconhecer. Algo, seguramente lá estaria, mas nós só conseguimos ver aquilo que reconhecemos, para o qual temos uma palavra. Para aquilo não havia, seguramente, palavras.»


***


«De tudo o que vi - nada é o que quero. De tudo o que senti, nada é o que sobrou - e nada é o que quero repetir. Estou desapaixonado de tudo e de mim.»




(Miguel Gullander, Perdido de Volta)

18/12/08

O Meu Sonho

Vou à janela e enquanto espero a noite chegar vejo a paisagem dourada que se estende à minha frente. Neste momento de final de tarde o tempo parece parar. Tudo é calmo e sereno, com uma musicalidade que nos faz sonhar, que nos faz ansiar ainda mais pela noite.

Chamo o anjo da noite, aquele que cura todos os males. Que me faz esquecer o dia, a realidade e tudo o que tem de aborrecido. Fico feliz quando o sinto chegar. O sonho vem sempre atrás.

É no sonho que liberto todas as minhas amarras. Liberto a minha mente de medos e preconceitos.

O sonho é como uma realidade à parte. Todos temos uma e não a partilhamos. É uma realidade que vivo sozinha, onde exprimo todas as minhas emoções, sentimentos e onde as frustrações não existem. Nele nada é proibido.

No entanto, é uma realidade interrompida a cada dia pelo despertador, pela moral, pelo dever e pela obrigação de ter de conviver na realidade por todos partilhada.

No sonho não existe noção de tempo. Vive-se para o presente. é um momento infinito e indeterminado. É um espaço único e livre. Só meu, onde sou o seu centro. Tudo gira à minha volta. O que importa sou eu, as minhas sensações e as minhas emoções.

Mesmo não estando presente, no sonho há algo que invariavelmente se refere a mim. Pode ser uma subtileza, um pequeno objecto, uma característica física, mas é algo que é um exclusivo meu. Algo que torna o sonho no 'meu sonho'.

O instante em que acordo é o mais triste para mim, pois neste momento tudo o que se passou durante a noite desaparece. Chega o anjo da manhã, aquele que nunca chamo, e faz-me esquecer tudo o que sonhei.

Penso na vida e nas possibilidades que a recordação de um sonho me pode trazer. Tento recordar o que sonhei, mas surge sempre na minha mente um enorme buraco negro, vazio e perturbante, que me leva a pensar, por breves instantes que estou perdida na loucura que assola o mundo.

Olho uma vez mais pela janela a ver se a noite já chegou e descubro que chegou o dia e a paisagem azul e branca da manhã.



13/11/08

Li Num Livro... E Gostei (3)

«Qualquer Encruzinhada é um local do maior perigo, pois todas as direcções, excepto uma, estão erradas.»



(Miguel Gullander, Perdido de Volta)


06/11/08

Espera, Procura e Desespero

Espero encontrar algo que não tenho, mas quero. Algo que quero mas não sei se sei o que é. Quero definir prioridades. Conseguir definir o que quero ou, pelo menos, saber o que não quero.

Não procuro nada, nem niguém que possa ser este algo que não tenho.
Procuro, sim, em mim, pois sei que é onde está. Poderá estarperdido em algum dos meus poros, ou até estar tão à vista que a obtusidade do meu olhar viciado não o consegue distinguir.

Não desespero. Apenas espero e levo cada dia com a calma que deve ser vivido. Rindo quando ttenho vontade disso, ou não. Chorando quando não consigo controlar, mas saíndo mais tranquila de cada momento. Mais alerta para as fragilidades que existem em mim e agradecendo por ainda existirem. Pois assim sei que dentro de mim ainda bate um coração que sente, que se preocupa e se ocupa com os outros, não só comigo.


31/10/08

Desassossego (5)

Tenho estado perdida nos meus pensamentos, analisando a vida: aquilo que quero, aquilo que espero e aquilo que tenho feito para o conseguir alcançar.

Já estou nisso há alguns dias e não chego a conclusão nenhuma. Na minha cabeça há um nó que não deixa espaço para nada.

Os sentimentos estão à flor da pele, mas não consigo identificá-los, ou não o quero fazer. Não tenho condições para tal. A minha cabeça está demasiado activa. Estou em hipertrofia. Já cheguei ao ponto de me estar a deitar mentalmente exausta e acordar ainda pior, a dor de cabeça está cada vez mais aguda.

Preciso fazer qualquer coisa. Preciso ordenar pensamentos. Preciso calar os "Eus" que divergem sem se ouvirem, falando todos ao mesmo tempo. Tenho que os obrigar a falar um de cada vez. Tenho de os obrigar a escutar o que os outros dizem. Tenho que dar coerência ao meu discurso e às minhas atitudes. Tenho que optar, tenho que agir sem medo. E de momento, com toda esta batalha não consigo. Fico paralisada, sem capacidade de resposta, com a luta infernal em que o meu "Eu" Racional e o meu "Eu" Emocional entraram.

Papel estúpido e ingrato que os dois estão a desempenhar, numa batalha que não tem sentido e que só me afunda mais no estado de burrice emocional em que me encontro. Não sei o que quero. Melhor dizendo, sei o que quero, mas o que quero é algo sem pés nem cabeça.

Quero recomeçar a minha vida, mas não quero sair do ninho de conforto em que estou. O equilíbrio em que me encontro é me bastante útil, conheço-o, sei como lidar com ele, sei como estar nele e voltar para ele em qualquer situação com que me depare.

Mas recomeçar requer ir por caminhos que não conheço, requer estar em situações que não domino, requer andar em equilíbrio sobre a corda sem rede por baixo, requer abrir-me aos outros, requer demonstrar sentimentos que me habituei a guardar, requer estar exposta aos outros, mostrando como realmente sou (fragilidades incluídas).

Será que consigo entrar nesse caminho em que, para além de confiar em mim, tenho de confiar nos outros?


21/10/08

Devaneios (6)

Às vezes pergunto-me porque perdemos hábitos saudáveis. Hábitos que nos libertam e nos fazem desligar do que nos rodeia. Hábitos que nos fazem conhecer melhor a nós mesmos. Pequenos hábitos, pequenos gestos. Algo que achamos que nos acompanhará para toda a vida.

Não percebo porque deixei para trás tantos pequenos hábitos. Larguei a escrita, larguei as longas caminhadas pela cidade, largeuei as tardes na esplanada acompanhada por um bom livro e uma boa música, larguei as idas compulsivas ao cinema para ver o filme que stá prestes a começar, larguei a dança.

O único hábito que mantive, foi a forma sitemática de largar: o constante adiar, sempre para mais logo ou para amanhã, os velhos hábitos que criei. Enredo-me em todos estes conceitos abstractos, pois sei que têm a capacidade de nunca vir.

O meu quarto é o reflexo exacto do meu adiar, é o reflexo exacto do estado actual em que me encontro: desordem, indecisão.

Uma vez mais ando perdida no rumo a dar à minha vida. Uma vez mais, sinto a rotina a querer abalar-me. Ando preocupada com tantas coisas que não consigo definir que rumo tomar. Noite após noite sinto que me roubam um pouco do meu sono. Vão gastando as minhas energias e degastando a minha autonomia.

Estou a chegar àquela fase que de tanto pensar e de tanto me ouvir, acabo por não ter tempo para agir. Não estou no meu timing, não encontro o meu timing, não consigo defini-lo e muito menos reconhecê-lo.

Preciso de um novo equilíbrio, preciso de me reencontrar com o meu caminho.


12/10/08

Manhãs

São cinco da manhã, a quietude que me rodeia contrasta com o turbilhão ensurdecedor das preocupações que me ocupam a cabeça e me pesam os pensamentos. Quero descansar. Preciso disso, para me sentir calma e tranquila, mas não consigo.

Os lençóis já me pesam, o calor do meu corpo nu sobre a cama é mais intenso e insuportável do que o silêncio da casa, do que o silêncio do prédio e do que o próprio silêncio da rua, que ainda dormem, esperando o raiar do novo dia. Não consigo encontrar uma posição confortável para estar. Já dei voltas e mais voltas pela cama, mas nada me conforta.

O tecto branco, que no escuro da noite, me parece sempre carregado de sombras e fantasmas, deixa-me ainda mais intranquila. Faz com que as sombras que encobrem a minha vida e os fantasmas do meu passado, persistam em invadir a minha mente.

Já me tapei e destapei mil vezes, os lençóis estão tão engelhados no meu corpo que o sinto presa. O calor parece continuar a aumentar, ou a preocupação e a minha inquietação fazem com que eu sinta isso.

As horas avançam muito lentamente. A noite parece não querer passar. O meu sono vem e vai, incansável. Tanto como os pensamentos e os medos que não deixam a minha cabeça sossegar e o meu corpo repousar.

O Verão está quente, ainda só se vislumbram umas nesgas de claridade que anunciam o chegar da manhã, mas parece que estamos em pleno calor do meio-dia.

São 7 horas, quando, finalmente, é quebrado o silêncio da casa. No quarto ao lado do meu, o António vai, cautelosamente, quebrando esta imposição nocturna.

O seu despertador toca e ele tenta sempre desligá-lo ao primeiro toque, fazendo o possível para não incomodar o meu sono. Quase sempre é em vão, não por descuido dele, mas sim por as minhas noites virem quase sempre acompanhadas pela insónia.

Fico feliz quando, do meu quarto, oiço o silêncio da casa partir com o despertar do António. O suave abrir e fechar da porta do quarto, a passada arrastada dos chinelos pelo chão, em tacos de madeira envernizada, quando se encaminha para a casa-de-banho, o respingar da água do chuveiro, durante o seu duche rápido. Estes são alguns dos seus pequenos hábitos diários que assinalam o começo de um novo dia.

A noite já passou, transmitem as ondas do meu cérebro aos meus fantasmas e sombras que, depois de receberem esta informação, desaparecem como se nunca tivessem estado comigo. É mais um dos momentos que me dá prazer.

O António prossegue a sua rotina diária. Agora oiço, ao longe, na cozinha o tilintar da chávena de café no pires, o despertar do motor do frigorífico, quando o abre, para tirar o leite que junta ao café quente. Sinto o aroma inconfundível do pão acabado de torrar e do café acabado de tirar.

Por breves minutos, volta a reinar o silêncio, que é novamente quebrado quando o António regressa ao quarto, volta a abrir e fechar a porta e começa a vestir-se para ir trabalhar. Um novo aroma invade a casa. O seu perfume.

Volta a abrir e fechar a porta do quarto e caminha para a sala, agora numa toada mais rápida e barulhenta, causada pela sola de couro dos sapatos que usa.Lá, remexe nos móveis à procura da carteira, das chaves de casa e do carro e dos documentos. Embora os coloque todos os dias no mesmo local, vagueia por alguns instantes por esta divisão da casa. não sei o que motiva este seu comportamento. Eu equiparo-o a um buscar de energias que lhe preparam, física e psicologicamente, para enfrentar mais um dia de trabalho.

O derradeiro ruído que faz é a sair de casa. Destranca a porta da rua, abre-a, sai e fecha-a. O silêncio volta à casa, em pouco mais de uma hora. Depois das 8h15, já não há vestígios do António em casa.

Eu continuo na cama a tentar ganhar coragem para me levantar.



08/10/08

Devaneios (5)

O pior grito, a pior necessidade e o pior silêncio, são aqueles que são mudos e nos ensurdecem por não serem entendidos, explicados e ouvidos.

As mudanças têm destas coisas.

Há alturas em que as entendemos e aceitamos, outras em que entendemos mas não aceitamos, outras em que não entendemos e aceitamos e ainda outras em que não entendemos e não aceitamos.

Tudo porque não reconhecemos o reflexo que o espelho nos dá, não o identificamos como nosso.

O que fazer? Esperar por um novo dia e quando este dia chegar perceber que já não nos incomodamos com o que fomos, com o que somos e nem com o que seremos.


Pontos de Vista

- Dependência e posse andam de mãos dadas.

-Sim, para haver quem dependa, tem que haver quem possua. Ou para haver quem possua, tem que haver quem se deixe possuir.

- Exactamente! E às vezes o sentimento de posse vem de quem depende. E acaba por depender, também esse, de alguém que depende dele...

- Há quem abdique do que realmente é para se transformar naquilo que o outro quer, deixando-se engolir pelo outro. Acho que se acaba por ir parar à velha questão da falta de amor próprio e de auto-estima. Não acreditar que se tem mais-valias como qualquer outra pessoa e que se é importante.

- Já me aconteceu... A dada altura ía sendo engolida... Saí a tempo... Mas ficaram marcas.

- Pois, ficam sempre. Principalmente quando levamos toda a nossa vida a lutar para que isso não aconteça.

- Mas passam, porque eu sou facilmente reciclável em relação aos maus momentos.

- Isso é bom. Gostava de ter esta capacidade um bocadinho mais apurada.

- Sabes?... Eu sofro muito, descabelo-me, choro torrencialmente, custo a esquecer, mas ultrapasso. Impeço que o sofrimento me castre os sonhos e a vontade de amar e ser amada.

- Pois. Eu chorava, agora não choro. Eu esquecia, agora não deixo o sofrimento chegar. E deixei que o medo de sofrer e de ser rejeitada me castrasse os sonhos e a vontade de amar e me deixar ser amada.

- Pois, eu cá acho que as pessoas devem deixar que o sofrimento lhes aconteça. Quanto mais não seja fá-las crescer e depois é olhar para a vida pensando no lado positivo de cada momento menos bom.

- Deve ser isso...

- Mas tu não deixas que eu sei.

- Pois...

- Deixa só um bocadinho...

- Não consigo, não sei como se faz.

- Respira fundo... Ventila... Deixa correr e sente... Se chorares não faz mal, porque o meu ombro estará sempre aqui e sozinha nunca estarás. Se sorrires será lindo e eu estarei cá na mesma para me sentir feliz por ti.

- Parece simples. Mas tenho uma cabeça que está constantemente a sabotar-me.

- E é. Esquece a cabeça.

- Mais uma coisa que não sei fazer.

- Sabes, sabes... Não penses, sente.

- Aprendi a controlar e não deixar sair o que vai dentro do coração, que muitos acham que eu não tenho, e agora dá nisso.

- Eu cá sou das que acreditam que tens o coração escondido. Só isso.

- Para além disso, não sei se os outros merecem aquilo que tenho para dar. E, acima de tudo, se eu mereço o que os outros têm para me dar.

- Se não merecem acabamos por sofrer mas também acabamos por ser mais astutas na identificação de cabrões.

- Achas que passamos a identificá-los melhor? Eu não sei.

- Acho que sim. Sem dúvida absolutamente nenhuma. Além de que conseguimos perceber se a outra pessoa está no mesmo comprimento de onda que nós. Se não está (seja qual for o motivo) é sair fora.

- Acho que chega uma fase em que deixamos de acreditar na nossa capacidade de avaliar o carácter dos outros. E isso leva-nos ao descalabro total. Já que em tudo o que os outros dizem procuramos segundas intenções. Ouvimos aquilo que dizem, filtramos, filtramos, filtramos e no final nada passa. Achamos que tudo não passa de mentiras.

- Esquece as segundas intenções, mas interpreta a comunicação entre linhas (que podem não ter segundas intenções). É uma questão de: ou agir fria e descontraidamente; ou agir observando, interpretando, conhecendo... Mas igualmente sem medos, nem reservas. Qualquer coisa que faça soar o alarme é agir em conformidade com o desaforo. Sim porque somos boazinhas até ao momento em que nos pisam os calos ou se esticam...

- Acho que passei a ter mais medo de mim do que dos outros. Muitas vezes parece que acabo por magoar os outros para não ser magoada, que acabo por usar os outros para não ser usada.

- Pois, eu sei e sinto isso mesmo em ti... Mas vai passar.

- Já tive mais esperença nisso.

- Nem uma coisa, nem outra é boa... Vai mudar... Se eu digo é porque vai.


23/09/08

Li Num Livro... E Gostei (2)

"Provavelmente há palavras melhores para definir a nossa relação mas, uma vez que não é obrigatório defini-la melhor, contento-me com estas e com pensar em nós dois por aquilo que realmente somos, muito antes e para além de qualquer definição: duas partes de um todo.

É precisamente este sentido de pertença comum, sem haver sequer a necessidade de especificar a coisa, que de vez em quando escorre pelas brechas do mundo e nos recorda que somos irmãos, que sempre o fomos e que o sermos irmãos é um estado mental poderosíssimo."


(Sandro Veronesi, Caos Calmo)

14/09/08

Devaneios (4)

Apetece-me gritar, apetece-me fugir, apetece-me ter alguém que possa simplesmente abraçar e que retribua o meu abraço sem qualquer tipo de perguntas. Quero ficar assim, até não ter mais forças nos braços e cair para o lado de cansaço.

Quero adormecer sem nada me pesar na consciência. Quero arriscar fazer isso, mas o medo (mais uma vez o estúpido do medo) não me deixa agir. Não quero dar parte de fraca, mas é isso mesmo que estou a ser e sou porque não faço o que quero.

Não estou em condições de estar sozinha, preciso da atenção dos amigos para conseguir dispersar esta nuvem negra que insiste em permanecer sobre a minha cabeça. Estou cada vez mais isolada e cada vez mais carente, mas também não consigo deixar ninguém aproximar-se o suficiente de mim para combater a minha solidão.

Estou sem paciência para mim. De momento não me consigo identificar com a imagem que o espelho reflecte e quando faço uma viagem ao interior do que vejo tudo ainda se complica mais. Quero ver mudanças na minha vida. Quero ter a minha cabeça um bocadinho mais ordenada e descansada para o meu corpo também ter o mesmo.

De quando em vez dou-me conta de que estou a representar para os outros, para lhes transmitir uma imagem de bem-estar geral, e quando isso acontece parece que a minha mente se liberta do meu corpo e põe-se a assistir a todo este degradante espectáculo da primeira fila da plateia.

Esta sensação é estranha. Sinto perfeitamente que estou a construir mentiras atrás de mentiras para mostrar alguém que não sou.

Chego ao fim do dia exausta e a noite não é nada reconfortante, porque só serve para me auto-reprimir por estar a agir mal perante os outros e, pior ainda, perante mim.



06/09/08

Devaneios (3)

Os dias passam.

A tormenta vai dando lugar à calma.

Procuro aquilo que fui, e só encontro aquilo que sou. Prevejo aquilo que vou ser, mas cada vez mais me apercebo que tudo não é mais do que um exercío teimoso da, ou mesmo para a imaginação.

Sorrio... Porque o tempo passa e aquilo que ontem fui e aquilo que hoje sou, pouco ou nada, tem a ver com aquilo que sonhei vir a ser.

Hoje, sinto o peso que o passado tem naquilo que sou, mas compreendo que não é dramático e muito menos catrastófico. Se não fosse aquilo que sou hoje o que seria? Não sei. Afirmo, negativamente, sem medo. Pois sei que o passado não volta e o futuro é algo de, ou é de todo, incerto.

Os dias passam, transformam-me e eu reinvento-me, aproveitando aquilo que fui e aquilo que sou para construir os marcos daquilo que, talvez, serei...

E, uma vez mais, sorrio...

07/08/08

Do Sentir (Após o Sofrimento)

Muitas vezes fico triste com as minhas reacções, muitas vezes fico triste com a minha falta de sentimento e muitas vezes fico triste por não querer fazer nada contra isso.

Às vezes tenho vontade de gritar ao mundo, bem alto, que a culpa de tudo isso não é minha, é da pessoa que pela primeira vez amei e que tanto me fez sofrer.

Às vezes tenho vontande de me esconder de tanta vergonha por ter amado quem não me amou e ter sofrido por isso.

Outras tantas vezes tenho pena de não te ter conhecido antes de tudo isso, pois sei que antes tinha muito mais para te dar do que aquilo que agora consigo. Sofro com medo de te fazer sofrer e choro com medo de te ver chorar.

Às vezes acho que não mereço um pessoa assim, que não mereço tanto amor assim. Quero tê-lo e senti-lo mas não sei como retribuir em igual dose. Preciso de ser amada, preciso de me sentir amada e sinto-o. Mas não sei o que fazer com tanto amor, não sei como me dar ao teu amor, não sei como voltar a sentir assim tanto amor.

Porquê que a vida nos mostra o amor impossível e nos faz sofrer tanto?

Porquê que a vida não nos mostra simplesmente o amor? O sentimento belo e forte que ele é. Que nos alimenta a cada instante de convívio e nos consome a cada instante de distância.

Porquê que a vida nos apresenta novas possibilidades de amor, se não nos deixa esquecer a dor do amor impossível, se nos obriga a criar barreiras para evitar uma nova dor?

Porquê que a vida não nos deixa viver cada novo amor como o primeiro amor? Sem medo de nos darmos, sem medo de sofrermos, sem resistências nem abalos.

Era só isso que eu queria para conseguir viver uma grande história de amor e poder dar sem medo todo o meu sentimento.



06/08/08

Preciso e Quero. Será Que Consigo?

Estou a precisar de me tornar independente, estou a precisar de crescer e procurar o equilíbrio físico e emocional que está perdido há mais de 1 ano.

Não quero com isto dizer que estou perdida e que não sei com o que contar, mas acho que está a faltar qualquer coisa no meu interior que me complete.

Mudei muito no último ano e muito depressa e, não sei porquê, não gosto muito da pessoa em que me estou a transformar. Aliás, acho que ainda não me habituei a ela. Tem pouco a ver com a pessoa que eu era.

Numa palavra cresci. Cresci para a vida, cresci para o amor e cresci para a dor. E foi o amor e a dor que o próprio amor me causou que me fez crescer, que transformou a menina alegre e despreocupada, que eu encontrava todas as manhãs no espelho, na mulher um pouco amargurada e ponderada, que agora teima aparecer todas as manhãs diante do mesmo espelho. Cada dia reparo que a mulher está cada vez mais a apagar a imagem da menina que eu era.

Dizem-me que isto é viver, que isto é crescer, mas eu não quero que as coisas sejam assim. Quero ter mais responsabilidades só que não quero perder a minha ingenuidade. Quero crescer, mas não quero perder a alegria de criança. Quero tudo isso, mas cada dia que passa torna-se mais e mais difícil manter-me intacta e pura às adversidades da vida.

Sinto-me envelhecer e eu não quero. 'NÃO QUERO, NÃO QUERO, NÃO QUERO'. Grito em pensamento, recordando-me que há uns anos havia lugar para birra, cruzar de braços e amuo por largas horas após gritar a plenos pulmões a mesma frase. Mas não quero envelhecer porque tenho medo de morrer. Tenho medo de morrer e de não ter conseguido fazer algo de notável que faça com que os outros não mais se lembrem de mim quando desaparecer desta vida.

Quero viver eternamente. Não na eternidade da minha vida e do meu tempo, mas na eternidade da humanidade. Quero este impossível como quase tudo o que sempre quis na vida: sonhei o impossível, amei o impossível, mas não consigo viver o impossível.

Há qualquer coisa em mim que é mais forte e não me deixa seguir livremente o curso da minha vida. Quero que ela se torne verde, mas não consigo sair do azul. Também não me esforço para mudar, parece que espero que as coisas mudem e aconteçam sozinhas.

Esqueço-me que só é assim quando queremos muito e fazemos muito para que as coisas aconteçam, não sozinhas, mas naturalmente. Temos de ser nós a fazer com que as coisas aconteçam naturalmente. Temos de criar as condições, temos de lhes indicar o caminho, criando a estrutura para que se possam desenvolver de acordo com aquilo que mais queremos.

Passo a vida a dizer isso, mas quando chega o momento de agir, de estruturar as coisas, todos os meus planos vão pelo ar. Desaparecem como um nuvem desaparece depois de chover. Mas em vez de tornar o ar mais limpo torna-o mais torpe, mais sufocante.

Sufocada é como eu me sinto quando não consigo reagir de acordo com o que penso e quero.


01/08/08

Da Escrita

Há muito tempo que não escrevo. Será que perdi a inspiração para a escrita?

Tenho muito sobre o que escrever, tenho muitos sentimentos a fervilharem dentro de mim, mas não consigo escrever sobre eles. Não consigo passar para o papel tudo aquilo que estou a sentir. Será que é por serem sentimentos muito contraditórios?

Será que é por ainda não ter conseguido distingui-los uns dos outros?

Não sei, não consigo ainda perceber o porquê desta minha dificuldade extrema para escrever. Parece que surgiu uma nuvem sobre a minha mente que bloqueou toda a energia que me leva a escrever.

Tenho tido uns dias calmos no trabalho, sem nada ou quase nada para fazer. De momento estou lá sozinha, ou seja, tenho o ambiente ideal para desenvolver os meus pensamentos e a minha escrita. Mas sempre que pego no papel e na caneta não acontece nada. Escrevo coisas sem sentido, sem qualquer interesse, começo a divagar sobre tudo e mais alguma coisa e este tudo resume-se a nada. A nada de interessante. Logo que escrevo dois ou três parágrafos e volto a lê-los perco de imediato a vontade de continuar a escrever. Não gosto do que leio, não gosto do que escrevo e isto está a levar-me a dar em doida.

Como é possível de um momento para o outro, sem qualquer explicação lógica e plausível eu ter deixado de conseguir escrever?

Penso nisso muito e muitas vezes ao dia e não consigo arranjar nenhuma resposta. Parece que estou a oprimir os meus pensamentos, as minhas ideias e os meus sentimentos. Acho que todos eles se encontram bloqueados. Sinto-me estranha, sinto-me triste quando estou alegre e sinto-me alegre quando estou triste. é tudo muito confuso. Não me consigo compreender e isto ainda torna as coisas mais dolorosas.

Também não tenho conseguido abstrair-me das coisas e das pessoas em meu redor e o pior é que nem umas e nem outras são assim tantas que possam fazer com que eu ande constantemente desconcentrada e distraída.

Está a faltar-me qualquer coisa. Não estou a conseguir encontrar o elo que está danificado, para ver se tem conserto ou se está definitivamente quebrado.

Sinto que estou a precisar de mudar alguma coisa na minha vida. Tenho de a tornar mais activa para eu mesma me sentir assim.

Não sei se é da época do ano, pois não me lembro se em outros anos também me senti assim. Mas acho que não. Acho que está mesmo a chegar o momento de dar um volta de 180 graus. De seguir novos rumos, encontrar novos destinos e viver novos sentimentos. Falta um pouco de intensidade, falta um pouco de surpresa e falta um pouco de motivação.

Preciso de novidades. Acho que o que me faz mais falta é sentir-me viva.

Estou confusa em relação aos meus sentimentos. Não sei se quero continuar assim como estou ou se tudo o que eu quero é estar sozinha. Sem responsabilidades e sem satisfações a dar a ninguém. Estou a precisar de um tempo só para mim. Estou a precisar de um espaço só meu.

Tenho muitas decisões a tomar e preciso de coragem para as resolver.



01/05/08

Li Num Livro... E Gostei

«A paixão assusta-me tanto quanto me fascina.(...) Estar apaixonado é sentir-se inseguro, é andar na corda sem rede. É sentir falta de ar quando estamos longe e falta de chão para pisar.

Nunca vivi dias tão fugazes como os da paixão.

(...) Quando se está apaixonado (...) perde-se a noção exacta do tempo. O controlo da situação. O fôlego. A razão.

Muitos não se apaixonam porque têm medo de sofrer. Não chegam a saborear para não amargurar. Sofrer também é um caminho, é a aprendizagem dos bons momentos, dos sorrisos, do fervilhar que nos enche a alma.(...)

Somos leves e grandes quando estamos apaixonados.(...) Sorrindo mesmo quando não há razão para tal. Deixando-nos levar pela simplicidade de um olhar, de um abraço, de um carinho. Porque quase tudo é perfeito.

A paixão irrompe pela nossa vontade, pelos nossos sentidos, pelos nossos sonhos. (...) Dá-nos asas e leva-nos longe dentro de nós próprios. Mesmo sem percebermos, sem sequer querermos perceber.

Já me deixei levar pela paixão ou pelo que julgava ser paixão. Porque é tão ténue, tão facilmente ultrapassável, na paixão, a linha que separa a verdade da mentira. (...)

Ninguém precisa de dizer que está a paixonado. a paixão está no brilho do olhar, na ansiedade e no desejo que se tenta controlar a cada momento. Porque não se escolhe ficar apaixonado. A paixão acontece, como acontecem os acidentes, sem querer. É um acidente de percurso com final feliz, sem mazelas nem marcas. Apesar de lhe sabermos um fim, é perfeita por ter sido, por ter acontecido.

A paixão tem muito medo de não voltar quando se vai embora, e nós temos medo de viver sem ela.»



(Rita Matos, Amar Demais)


23/04/08

Desassossego... (4)

A minha vida, de momento, resume-se a falta de vontade.

Falta de vontade para arriscar em qualquer campo. O profissional, o sentimental e o familiar.

Acho que me transformei numa atrasada emocional. Não entendo os meus sentimentos, nem me esforço por isso, e muito menos entendo ou quero entender os sentimentos dos outros.

Aborrece-me falar de mim e ouvir falar dos outros. Tudo passou para um plano secundário e em primeiro plano existe somente um vazio.

Vazio de sentimentos. Vazio de desejos e emoções. Vazio de ideias. Vazio de motivações e ideais. Vazio de sonhos.

Sinto-me tão sozinha no vazio da minha casa, quanto num recinto repleto de gente.

Não consigo concentrar-me em nada, nem interessar-me por nada.

Mesmo sentindo o interesse das pessoas em mim, eu não me esforço para estimular e alimentar esse interesse. Desconverso ou, simplesmente, não converso. A minha comunicação resume-se ao mínimo indispensável.



22/04/08

Desassossego... (3)

Hoje, percebi que a saudade que senti não é nada mais do que fruto da minha solidão e do pequeno grande hábito criado nos últimos meses de poder contar com a tua companhia.

É só isso.



20/04/08

Desassossego... (2)

Tenho-me sentido terrivelmente sozinha. Sei que estou carente de afecto e atenção. A tal ponto que não consigo fazer coisas que habitualmente faço sozinha. Quer seja uma ida ao cinema, um passeio calmo ou um lanche numa esplanada.

Por saber que estou assim, tenho-me mantido alerta, por forma a evitar quaisquer acções que me exponham e que de algum modo me possam vir a magoar, prejudicar ou, até mesmo, causar arrependimento.

Espero não ter de ficar assim por muito tempo.


17/04/08

Desassossego... (1)

Estamos no início da madrugada. Hoje está a custar não pensar em ti. A saudade está a atacar-me, mas prometi a mim mesma não tentar querer saber de ti.

Estou a lutar para respeitar a decisão que tomei e, assim, respeitar-me.
O que no final de tudo é o mais importante.



28/03/08

Devaneios (2)

Às vezes penso se o que eu quero da vida, se o que tenho, se o que faço e se o que espero é, de algum modo, parecido com aquilo que sonho.

Às vezes penso se o que sonho pode ser algo mais do que isso mesmo: sonho imaginação. Não podem os sonhos transformar-se em objectivos? Não podem os sonhos deixar de ser os SE's imaginários para passarem a ser os SE's praticáveis?



26/03/08

... (4)

A ternura é como um postal ilustrado que se recebe
e nos traz à memória lembranças de pessoas que,
apesar de distantes, nunca são esquecidas.



22/03/08

Desabafo (3)

Preciso de tempo só para mim.

Preciso estar só, de modo a poder reorganizar os meus sentimentos. Preciso de tempo, para perceber o quanto cresci. PReciso de tempo, para compreender o que mudou em mim. Preciso de tempo, para quando chegar o momento de dizer adeus, a tudo o que vivio nos últimos anos (porque sei que este momento está mais perto do que nunca), o faça sem quaisquer dúvidas, para além das que surgirão por um novo caminho se encontrar à minha frente.

Quero sair o menos magoada possível e quero que o mesmo aconteça à outra parte. Pela amizade, pela cumplicidade, pelo carinho e respeito que sempre houve entre nós e, até mesmo, pela paixão e pelo amor que nos uniu.

Sei que vai custar. Vai custar muito, porque vai ser necessário um corte radical entre os dois. MAs creio que, com o tempo, tudo o que de bom nos uniu e nos levou a querer uma vida a dois, possa ser suficiente para mantermos uma relação de amizade.

O tempo que preciso, curto ou longo (ainda não sei), vai servir para me reencontrar comigo mesma. Vai servir para conhecer a nova pessoa que sou. Vai servir para me habituar a ela e para a aceitar, com as suas qualidades e defeitos. Esta descoberta, quero fazê-la sozinha, com o apoio da família e dos amigos, mas de acordo com a minha vontade e disponibilidade.

E quando me sentir bem e reconhecer o reflexo que o espelho me mostra todos os dias como sendo eu, talvez possa estar preparada para reencontrar outro alguém que se sinta tão bem ao meu lado, como eu me sentirei bem comigo.

Nem todos compreenderão esta minha vontade, mas vão ter que a aceitar. Vou-me tornar um pouco mais egoísta. Vou pensar mais em mim e no meu bem-estar e esquecer por uns tempos (que espero não muito longos), que os outros também têm sentimentos, sonhos e expectativas que querem realizar.

Talvez me torne mais calculista. Talvez pense mais nos proveitos que terei, mas preciso de tempo, para alargar os meus horizontes, para senitr que sou livre o suficiente, para quando achar que devo dizer não, o fazer sem arrependimentos e sem pesos de consciencia.

Quero muito mais do que aquilo que tenho, ou alguma vez tive. Quero conforto, segurança e carinho, mas também quero desejar um homem e ser desejada como mulher.

Isso será possível? Preciso acreditar que sim, pois de outro modo, não conseguirei seguir em frente, nem deligar-me do passado. Sem nunca esquecer o que trouxe de novo à minha vida e o quanto me ajudou a crescer e a perceber que, nem sempre aquilo que sonhamos e queremos num determinado momento da nossa vida, será aquilo que quermos para o resto da mesma.

Assim como tudo à nossa volta muda, também nós mudamos. E ao aceitarmos as nossas mudanças crescemos um pouco mais, tornamo-nos mais pragmáticos e menos vulneráveis às transformações que nos rodeiam.


21/03/08

Desabafo (2)

Consegui durante algum tempo controlar a minha vontade de me perder nos teus braços. Consegui, durante um longo período, controlar a minha vontade de reencontrar o prazer de te ter e sentir dentro de mim.

Insisti, nos últimos meses, ouvir a tua voz. Insisti, em momentos de descontrolo e tristeza, trocar mensagens de conteúdo altamente provocatório. Insisti em tudo isso, porque persistia a saudade e achava que era o suficiente para demonstrar que a mágoa e o rancor do passado já não faziam parte do presente. Tudo isso me agradava, porque a saudade atenuava.

Tanto fugi de tudo isso, que o tudo se tornou pouco, a cada novo dia. Ouvir a tua voz já não era o bastante, as nossas mensagens, já eram muito pouco para matar as saudades de te ver e muito menos para matar a vontade de te ter.

Fugi, tentando resistir e tentando-me controlar, que fui apanhada.

Fugi tanto, a todas as tuas tentativas e a todas as minhas promessas de não nos voltarmos a ver, que isso acabou mesmo por acontecer.

E ao nos encontrarmos, voltámo-nos a perder nos braços um do outro. Voltei a pedir o teu corpo e a entregar-te o meu. Foi tudo tão natural que senti que estávamos 100% ligados um ao outro.

Senti que não houve só desejo e tesão. Entregámo-nos mutuamente, fazendo surgir a saudade, o respeiro, o carinho e uma forma diferente de mostrarmos o prazer e a vontade do momento.

Será que alguma coisa mudou entre nós? Ou por já nos conhecermos simplesmente démos aquilo que sabiamos ser o que o outro queria? Não sei. Mas gostei de sentir como verdadeiro, cada beijo saído dos nosso lábios, cada toque das nossas mãos nos nossos corpos, cada abraço e demonstração de carinho por nós trocados.

Voltámos a viver algo que não deviamos, dissémo-nos isso e sabemo-lo. Conversámos, discutimos, lutámos, mas não resistimos.

Não resistimos ao tempo que passou sem nos vermos. Não resistimos aos estímulos que deixámos soltar. Não resistimos ao cheiro e ao calor que os nossos corpos libertam quando estamos lado a lado. Não resistimos ao juramento que fizémos um ao outro de não nos voltarmos a encontrar.

E no final depois de resolvidos os conflitos e de saciados os desejos, seguimos cada um o seu caminho. O meu nada penoso, como sempre achei que voltaria a ser, porque ganhei uma batalha de um conflito que, durante quase dois anos, andou presente no meu pensamento.

Sei que cresci. Tu também me pareceste um pouco mais maduro. Não sei se a imagem que guardei de ti tem algo a ver com aquilo que eras na época, mas quem me surgiu neste encontro louco pareceu-me ser um homem ciente do que quer.

Nada mais queremos um do outro. Nas nossas vidas não há espaço para algo mais do que o que tivémos, pois há outras pessoas que delas fazem parte. Não as queremos perder, nem magoar. Agimos mal por isso. Mas a excitação, o prazer, a satisfação e a realização de ter sido algo do mais belo que vivi e senti, não deixa espaço para sentir nenhum arrependimento.

Julgo que daqui a uns anos quando olhar para trás e reviver o meu passado, esta será uma das melhores recordações da minha vida. Deste-me prazer como nunca senti ser possível receber e eu espero ter estado à tua altura.


15/03/08

Desabafo (1)

Ando perdida...

Perdida nos meus pensamentos. Perdida no meu trabalho. Perdida na minha relação. Perdida na possibilidade de me voltar a perder no corpo de outro homem, que já não devia fazer parte do meu presente. E o meu maior receio é não conseguir voltar a me encontrar.

Quero voltar a controlar a minha vida. Quero, mas não consigo. Apetece-me fugir. Para longe, para muito longe. Talvez para uma ilha distante, ainda não conhecida. Uma ilha perdida, onde só se aviste o verde cristalino do mar. Mas sempre que tenho esta visão, surge-me no pensamento o olhar penetrante e sensual desse alguém que nunca deveria ter deixado entrar na minha vida.

Pensava que tudo isso já era passado. Que tudo isso já estava arrumado na gaveta da memória das grandes e inesquecíveis recordações. Enganei-me. Como me enganei!

Só foi preciso uma simples insinuação para fazer surgir todo o desejo que julgava já não existir. Vulnerável e perdida, resolvi ouvir a voz dele. E que voz, meu Deus!

Todos os pequenos e insignificantes flashes dos tórridos momentos que passámos ganharam outra dimensão no meu pensamento. Uma dimensão gigantesca e poderosa. E agora, só quero, julgo eu, voltar a viver outra aventura assim.

Gostava que fosse com quem vivo. Com o homem com quem partilho as minhas dúvidas, o homem que encontro todos os dias quando chego a casa e ao lado de quem me sinto segura. Gostava que todo este meu desejo, que todas as loucas e perversas fantasias, que fazem fervilhar o meu sangue e que me demonstram que ainda estou viva, fossem partilhadas e desejadas por ele. Só que, de momento, sei que não é com ele que as vou conseguir viver. E também sei que não é com ele que me quero perder na loucura do meu prazer.

E isso atormentamente. Tira-me o sono. Não deixa a minha cabeça parar de pensar: devo continuar como estou? Devo continuar a viver infeliz e agarrada a um homem que, a cada dia que passa, me parece ser, cada vez mais, um velho amigo ou, indo um pouco mais além na minha mente, um perfeito desconhecido? Ou devo largar tudo e começar a viver de uma forma que me deixe mais livre e feliz?

A nossa relação parece estar perdida, tanto ou mais perdida do que eu.

Por saber que não quero o que tenho e por ignorar aquilo que quero, quero voltar ao passado. Quero ser desejada, quero ser seduzida, quer ser tocada e quero ser sentida como mulher. Quero satisfazer o meu desejo e quero saciar a minha ânsia de prazer com aquele que despertou em mim todo o querer e todo o sentir, há muito adormecidos.

Quero voltar a desejar e ser desejada dessa maneira, como se não existisse passado, nem futuro. Quero viver somente o momento presente, quero congelá-lo, quando os nossos corpos se reencontrarem, quando os nossos olhos se cruzarem e permanecerem inquietamente vidrados um no outro, desejando ardentemente libertar toda a nossa necessidade de prazer.

Quero sentir o tempo parar infinitamente, quando saborear cada centímetro do corpo dele e quando ele esgotar a fome do meu.

Quero ver o olhar dele perdido no meu e rever-me perdida no dele, quando juntos atingirmos o máximo do prazer.

Quero voltar a repetir, a repetir, a repetir, como se fosse o ecoar infinito do prazer da primeira vez. Quero isso (embora não deva), porque o meu pensamento diz que só assim me poderei voltar a encontrar. Mas também, quero isso, porque continuo a ouvir a palavras sussurradas ao meu ouvido, que num tom quente, suave e sensual me fazem perder e me obrigam a dizer que estou perdida: "ou me perco contigo, ou estendo-te a mão e ajudo-te a encontrar o caminho de volta..."

Só que uma dúvida persiste. Este caminho será de volta para o controlo da minha vida, ou será de volta para a loucura do desejo que nos marcou e ainda hoje nos marca, de cada vez que as nossas vidas se cruzam?

Não sei dizer. Não quero saber. Só sei que continuo terrivelmente perdida. E de momento prefiro isso à necessidade, urgente, silenciada, mas cada vez mais ensurdecedora, de ter de tomar uma decisão que vai mudar o rumo da minha vida.



14/03/08

... (3)

Medo... de te perder.
Receio... de te encontrar.
Raiva... de te querer.
Desejo... de te odiar.
Ânsea... de te fugir.
Pena... de te deixar.
Vontade... de te pedir.
Revolta... de te aceitar.
Amor?!
Já não o sinto!
Amor!
Amor!
Como te minto.


(Marta Albuquerque)


10/03/08

O Amor Em Visita

O amor é o princípio e o fim de tudo. Por ele procuramos, nele nos achamos e muitas vezes nos perdemos, mas continuamos sempre em sua busca. Não interessa onde o encontramos e como o sentimos, apenas precisamos de dar e receber amor.

Desde o primeiro momento de vida o amor acompanha-nos, faz parte de nós. Por amor sofremos, com amor nos realizamos e de amor vivemos e morremos.

O seu chegar provoca transformações radiosas. Tudo à nossa volta parece ganhar vida, cor, luz, sabor e interesse. Torna-nos mais atentos ao que se passa em nosso redor e surpreende-nos. O nosso corpo transforma-se, as mãos transpiram de ansiedade, os olhos brilham, o coração palpita e a nossa respiração torna-se ofegante de prazer por ver, sentir e tocar o amor. Como que renascemos, parecemos crianças perante o seu brinquedo de sonho.

Por amor também sofremos, choramos e entristecemos por não o ver chegar, por o deixar passar, por não o conseguir sentir e tocar e por não ser correspondido. Sentimo-nos fragilisados, sós e até perdidos na imensidão do mundo, não encontrando sentido para a vida e para continuar a viver.

Sem amor sentimo-nos incompletos, como se tivesse sido roubado um pedaço de nós, e é isso que tememos.


03/03/08

Sombras

Procuro por ti em cada esquina que surge, por entre a sombra e a luz que cada novo passo que dou transforma.

Sinto-te presente em cada momento em que me sinto só. A tua ausência ocupa a minha solidão, fá-la parecer vazia de sentido. O que sinto não é falta de mim e muito menos falta de ti. O que sinto é, sim, falta de quem eu penso ser quando estás comigo.

Deixei de existir sem ti, deixei de sentir. Não sou boa companhia para ninguém. Não me sinto perdida, porque só sou eu quando estou contigo.

Não vivo nem sobrevivo, apenas deixo-me estar como sombra que aguarda o movimento do seu dono para ganhar vida. Só não me confundo com um reflexo de espelho, porque sei que este não tem vida. Já que não respira.


28/02/08

Devaneios

Penso no que quero da vida, no que tenho feito para o conseguir atingir e pergunto-me: Porque não o consegues fazer?

A esta pergunta surge sempre a mesma expressão: Medo.

Medo de falhar, medo de errar, medo de não fazer a escolha acertada, medo de perder o controlo, medo de me descontrolar, medo de tudo e medo de nada. Medo, medo e mais medo...

BOLAS!! Porque é que me deixo derrotar assim, sem conseguir, ou até mesmo sem querer, fazer as coisas?

Perdi a capacidade de acreditar em mim. Perdi a capacidade de acreditar em algo. Perdi a capacidade de conquistar. Desliguei-me dos meus objectivos, tornando-me, por isso, na minha pior inimiga. Nada me faz querer agir.

Pergunto-me constantemente porque procuro aquilo que não sou, porque procuro ter aquilo que não tenho e pouca ou nenhuma falta me faz.

Quero muito mas este muito torna-se pouco quando a meio da acção me ponho a pensar porquê e para quê?

A vida como a conhecemos é curta, não permite parar o tempo (este carrasco que nos persegue sem parar). E eu parei num tempo que já não existe. Parei de querer percorrer um caminho porque a iminência de um fim, que é certo, mas incerto na sua chegada, retirou todo o significado que punha na procura daquilo que sou.

Nada me incomoda, desliguei o interruptor do sentir e não mais voltei a encontrá-lo. Apenas o medo (que me paralisa)passou a existir. E este medo comanda a minha vida e transforma-me em espectadora em vez de intérprete. Tudo passa, tudo muda. Eu continuo a querer estar parada num tempo que já lá vai há muito.

Procuro fugir da rotina e da responsabilidade que ela acarreta por ão querer ser mais um neste mundo macroscópico, mas que é visto e filtrado numa dimensão micro.


27/02/08

Desalento

Sinto uma dor profunda no peito sempre que penso em ti. E o pior é que sei que é uma dor que só será apagada com o tempo.

Apetece-me chorar, apetece-me gritar, apetece-me descarregar todo o meu desespero.

Apetece-me desaparecer deta realidade em que vivo e que me abala, me entristece e me mata cada dia mais um pouco.

A vida não podia ser mais simples?


21/02/08

Carta de Desabafo (2)

É quase domingo, as horas que são, ao certo não sei. Tenho uma relógio mesmo em frente aos olhos, mas não quero ver. Os sinos da igreja insistem em tocar, mas não quero ouvir. Sei que é a hora, a hora certa para dizer o que sinto, pois chegou o momento de seguir em frente.

Há oito meses, começou uma etapa da minha vida que não queria ver terminar. Não sabia o que ía ser e só queria viver o momento, sem pensar no antes e no depois.

Tudo aconteceu muito depressa - o princípio, o meio e o fim - como num conto de fadas.

Não sabia o que se passava entre nós. Gostava de estar contigo, de sentir o que sentia contigo, mesmo sem perceber o que era. Estava feliz e isso bastava-me. Dava-me confiança para seguir em frente.

Nunca me tinha exposto tanto a alguém sem razão aparente. Não sabia o que sentia por ti e esta foi a razão para continuar a teu lado, mesmo quando soube o que sentias por mim - não era amor.

Acho que o medo do desconhecido e do arrependimento de não fazer as coisas é que me levaram a seguir em frente. Apostei na nossa relação, porque sentia que controlava a situação. Mas a vida tem destas coisas...

Sem sequer bater à porta ou ter convite para entrar, fui surpreendida pelo amor e quando dei conta desorientei-me. Não te consegui dizer o que sentia, mesmo quando me perguntavas, e não estava preparada para que fosse assim - um sentimento tão invasivo que nos domina totalmente.

Não sei se acreditas no que sinto porque nunca te disse. Quer dizer... Nunca usei palavras, mas os meus actos sempre denunciavam o que nós os dois, no início, e, mais tarde, só tu, teimámos em não acreditar.

Contigo aconteceu o que achava ser impossível: perder o controlo dos meus sentimentos. Fui invadida por um sentimento forte. Nunca pensei que pudesse sentir um amor tão forte por alguém.

Tu e eu somos dois seres completamente opostos, mas o que eu encontrei em ti e o que tu trouxeste para a minha vida possibilitou-me um ponto de equilíbrio emocional que eu achava não existir. Deste um pouco de desordem à minha vida, apresentaste-me um mundo novo, onde sentimentos e emoções oposto convivem lado a lado e até se sobrepõem, e ensinaste-me uma nova forma de estar na vida.

Aprendi a amar-te com todos os teus defeitos e feitios, o que nem sempre foi um mar de roas. Aprendi a conhecer-te através das tuas atitudes. Aprendi o teu código e consegui decifrar a tua linguagem. Isso foi algo que me deu muito prazer. Não imaginava que houvesse e que eu conseguisse descobrir uma pessoa tão diferente de mim e com a qual encaixava tão bem.

Infelizmente o meu sentimento não foi correspondido. Durante algum tempo tentei combater isso, até criei um mundo de fantasia onde tudo corria sempre bem, numa tentativa de manter a nossa relação. Tentei arrastá-la até ao limite.

A única coisa 100% verdadeira que construímos foi uma forte relação de amizade. E quando terminámos senti um medo tremendo de a perder. Foi muito difícil para mim pensar que ia perder tudo isso.

Sentia-te a fugir e cada vez mais distante de mim e sabia qual era o destino desta nossa viagem: o fim. Apesar disso, não tive tempo para me preparar, acho que até não queria. Foi tudo tão rápido que quando me dei conta do que se estava a passar, já tinha passado. Foi triste, foi como se o chão me tivesse sido tirado debaixo dos pés sem qualquer aviso. Senti-me perdida e vazia, não consegui reconhecer a pessoa que eu era e isso foi o que mais me custou. Uma parte de mim perdeu-se e pensei não conseguir viver assim nem mais um dia.

Entretanto, um dia passou, depois outro e mais outro, e já consegui organizar os meus sentimentos o suficiente para poder seguir em frente e iniciar uma nova etapa, dizendo-te (porque tenho que te dizer) ADEUS!

Fui até ao fim? Não sei. O tempo o dirá. Só sei que já é domingo, sinto-me um pouco mais feliz e já é outro dia...


19/02/08

... (2)

I love the way you love me,
but I hate the way I'm supposed to love you back


15/02/08

...



Existem muitas pessoas que gostam de mim,
mas o mérito maior é daquelas que me fazem gostar delas



14/02/08

Noite

É madrugada de sábado para domingo. A porta que se abre, trazendo as luzes e as sonoridades da noite, faz surgir uma imensidão de corpos bem trabalhados, semidesnudados e banhados em óleo e transpiração. Sim, são os empregados que se apresentam assim (eles de tronco nu, elas de biquini). E não, não se trata de um club de strip. A decoração remete-nos para um ambiente de praia, apesar do Verão ainda estar longe. E é assim todo o ano.

O calor faz-se sentir, a música e o alcool fazem a temperatura subir. O ambiente é caliente, assim como os ritmos latinos, brasileiros e africanos que invadem o ar.

As mentes libertam-se, os corpos prendem-se aos compassos, as sensações despertam.
Está bonito está. O ambiente perfeito para dar o corpo ao manifesto...


Carta de Desabafo

Na solidão do lar tudo parece triste e insignificante. No silêncio da noite não encontro o sentido da vida. Na imensidão do pensamento tudo de encontra confuso e nublado.

Não sei o que a vida significa para mim, o que sinto quando estou sozinha e muito menos quando estou contigo. Por isso, vivo cada momento não pensando muito no que virá a seguir. Com isso não consigo viver despreocupada. Pelo contrário, vivo na ânsia de saber o que irá surgir, o que irei sentir e como irei reagir. Fico triste e, ao mesmo tempo, alegre e pasmada, pois vão surgindo sempre surpresas que vão acentuando ou aliviando a minha tensão. São as contradições da vida a cada momento.

Sinto falta de alguém com quem possa conversar quando chego a casa. Alguém a quem possa contar as minhas aventuras e desventuras. Quando te conheci pensei que pudesses ser esta pessoa. Mas com o passar do tempo, parece que se acentua cada vez mais uma barreira de silêncio entre nós. Temos cada vez menos coisas de que falar, menos coisas para partilhar e o silêncio entre nós é cada vez mais gritante e ensurdecedor.

Vemo-nos uma vez por semana e já parece mais que o bastante. Já não me telefonas para saber como estou e eu não sinto falta disso.

Às vezes fico triste e pergunto-me porque estou a arrastar a nossa relação assim por tanto tempo. A nossa relação não se parece com nada. Parecemos duas pessoas estranhas que se encontram todos os dias, durante anos, no mesmo autocarro sem nunca trocarem uma palavra entre si. Olham-se e olham-se, mas nunca comunicam, pois os seus olhos nada transmitem. Não têm qualquer relação.

Sinto que conseguimos mais quando nos tratamos como amigos do que como amantes. Falta a chama da paixão e eu também já não sinto o desejo carnal que sentia no início. Gosto que me toques, que me estimules, mas quando chega a hora da verdade tudo desaparece, como se fosse um indício de que qualquer coisa vai mal ou que tu não és o tal. Mas também penso que não existe o 'tal'.

Quero mais de uma relação do que aquilo que me estás a dar. Quero cumplicidade e amizade, não apenas sexo. Quero poder chegar ao pé de ti e conversar abertamente sobre tudo, sobre a nossa relação e os nossos sentimentos. Quero sentir feed-back e interesse da tua parte. Mas penso que talvez também precise de transmitir tudo isso que exijo de ti, só que primeiro tenho de me sentir confiante e desinibida.

Entre nós começa a surgir esta necessidade muda de conversar seriamente sobre o que será a nossa relação daqui para a frente. E acho que sei qual será o primeiro passo, pelo menos da minha parte, para a nossa relação assumir outro rumo. A partir desse momento, ou a nossa relação termina ou se torna sólida, sem segredos e mentiras. Só deste modo nos tornaremos mais honestos com nós mesmos e um com o outro e mais livres para apreciarmos melhor a vida.

Escrevo-te como nunca antes escrevi a ninguém. Escrevo-te não porque me pedes, mas sim porque quero e não encontro outra forma de libertar os meus sentimentos. Por isso, não espero resposta. Apenas quero que penses no que acabaste de ler.

Um abraço


12/02/08

O Banal Quotidiano E O Seu Reverso

Mais um dia passou. Igual para muitos, mas diferente para mim. Banal para muitos, mas especial para mim. Um dia triste, marcado pela perda de um ente querido, muito querido, que eu nunca pensei ver morrer pelo que era e pelo que significava para mim.

A morte, uma realidade incontestável a que ninguém escapa, uma banalidade da vida, prende muitas vezes o nosso pensamento e leva-nos a reflectir sobre o que se passa connosco e à nossa volta.

Ontem, vendo tantos rostos tristes, muitos conhecidos e outros tantos estranhos, encontrei um olhar já muito marcado pelo tempo e, nesse instante, perdi-me em pensamentos distantes. Senti uma necessidade estranha, quase absoluta, de me centrar em mim e reflectir sobre a vida.

Senti vontade de fazer mil coisas, de me sentir útil, de marcar a diferença. Mas por outro lado, senti-me impelida a nada fazer, pois senti que não vale a pena, uma vez que tudo desaparece.

Senti-me confusa e revolta e invadida por um enorme vazio. Um vazio angustiante que me torna impotente, incapaz de qualquer reacção.

Fiquei triste por pensar que daqui a alguns anos não existirá mais nenhuma marca da minha existência, de quem fui e do que fiz. E também por ver como a vida é curta, curta demais, para tudo o que gostaria de fazer, sentir e viver.

Mas quando voltei à realidade, à tal nua e crua realidade, voltei a encontrar aquele olhar que, apesar de muito marcado pelo tempo, não perdeu o brilho que lhe dá vida. E fiquei feliz por experimentar e viver neste tempo que vivo, que é único, infinito e eterno para mim e para todos aqueles que comigo o partilham.

Senti-me aliviada e mais calma e os meus olhos sorriram ao lembrar da lição de vida do meu pai: passamos muito mais tempo mortos do que vivos, por isso temos de aproveitar todos os momentos que a vida nos dá, não esquecendo que o sofrimento e a morte, tal como a felicidade e a realização pessoal, fazem parte da vida. E concluo que quanto mais penso sobre a vida e a sua razão de ser mais me interrogo: porque penso e para que penso?


Ciúme

Não consigo compreender, nem espero que ninguém, senão tu, compreenda o que sinto. Só quero sentir e mostrar o que sinto. Sem pensar nos outros, sem sentir os outros. Sem pensar em ti.

Apenas eu importo, eu e o meu sentimento por ti. Não quero que haja mais nada, nem ninguém entre nós. Só te quero para mim.


10/02/08

O Sonho

Perdido no tempo, já não ligava ao passado, não vivia o presente e não se preocupava com o futuro.

André vivia sozinho, desligado do mundo e perdido da vida.

Vida, ao vê-lo assim abandonado, não pôde deixar de reparar no seu olhar tristonho, como se lhe tivesse falhado um sonho. Um sonho de uma vida, que se desvaneceu com a esperança de uma concretização falhada.

O amor tinha passado a seu lado, mas André não o viu chegar e quando deu conta do que aconteceu já era demasiado tarde para conseguir agarrar esse amor e mantê-lo perto de si.

Daí em diante, os seus olhos tornaram-se tudo aquilo que são hoje: tristes, sem qualquer brilho e alegria de viver.

Vida, sem perceber o que se passava com André, seu grande amigo de infância, não conseguia vê-lo ter pena de si mesmo e a deixar escapar oportunidades únicas de realizar outros sonhos que sempre teve. Por tudo isso, sempre que se encontravam, tentava saber o que tinha deixado André tão amargurado, mas ele nada dizia. Chegaram mesmo a cortar relações.

Quando Vida já tinha dado tudo por perdido, André convidou-a para jantar. Vida aceitou o convite e foi ter com ele.

Quando chegou, voltou a ver André no mesmo estado e com o mesmo olhar e durante o jantar deixou que fosse ele a conduzir a conversa. Depois de muito ouvir falar sobre banalidades, aproveitou a deixa do 'tempo' para dizer a André que já era tempo de ele contar o que tanto o estava a afectar. André desviou o olhar e não disse uma palavra.

Vida levantou-se e encaminhou-se para a porta. Quando estava prestes a sair, André, num turbilhão, contou-lhe tudo sobre o amor do seu sonho que se tornou realidade, mas que lhe passou ao lado.

Encostada à porta, Vida disse que o compreendia, ela própria já tinha passado pelo mesmo quando descobriu que o amor que sentia por André não poderia passar de um sonho falhado e, olhando-o nos olhos, disse que era chegado o momento de partir em busca da realização de outro sonho, pois ninguém deve ficar preso a um sonho que não se realizou e a um amor que passou.

Ouvindo tais palavras, os seus olhos voltaram a sorrir, como se a luz da esperança o tivesse atingido, dando-lhe força para recomeçar a sonhar.

Vida ficou feliz e André, com um terno e caloroso olhar, agradeceu.

Vida agradeceu também aquele olhar com um meigo abraço e, nesse instante de harmonia, ambos compreenderam que, apesar de tudo parecer insignificante quando um sonho se perde, o amor e o carinho de um olhar amigo é reconfortante, pois consegue indicar o caminho para outro sonho que se ergue.


Surpresa!!!!

A surpresa sou eu.

Eu que espero, eu que quero, eu que sinto e que por isso vivo.
Procuro algo que não sou, algo que fui ou que quero ser.

Ter, sentir, tocar. Uma surpresa a cada instante. Algo único. Um pedaço de vida e um pedaço de imaginação. Num espaço de encontro e desencontro com o que sou, com o que vivo ou gostava de viver, com o que sonho, com o que vejo e invento.
Um desespero. Uma palavra. Uma estória vivida de uma vida talvez vazia.
Um exercício de escrita. Algo mais do que aquilo que sou, alguma vez serei e sempre um pouco de mim.

Espero. Alcanço. Vivo, porque penso. Porque penso sinto e porque sinto vivo.
Confuso? Não tanto como o que vivo.
Respiro. Baralho e volto a dar. O que tenho, o que sou. Tudo será real como este espaço.

Sou o que aqui escrevo? Talvez sim, talvez não.

E isso interessa? Não. É evasão. Evasão do real, evasão da imaginação. Outro ser que sou, que ninguém conhece ou, se pensa conhecer, não sabe quem é. Encobrir quem sou é o que menos me preocupa. Descobrir quem sou pode ser um desafio diário no qual eu não participo. Quem quiser saber quem está por trás da escrita deparar-se-á com a infinita surpresa. A surpresa que cada nova descoberta revela. Um gosto. Um desgosto. Uma perda. Um ganho. Uma aventura. Uma desventura. Uma busca eterna, sem fim. Porque quem sou hoje, amanhã já não sou.

Um enigma? Não, nada disso.
Uma surpresa que cada um vê como quer.