Há dias, num desabafo de uma amiga sobre afectos, relacionamentos e sentimentos, uma simples pergunta ficou gravada no meu ouvido, como se de um subtil pedido de ajuda se tratasse:
- O que é que faço a tudo isso que sinto? Pego e deito fora? Já não serve para nada.
Paralizei face ao sarcasmo usado para tentar iludir os sentimentos. E enquanto pensava se deveria responder ela continuou:
- Eu não quero isso. Eu quero viver tudo isto que sinto...
- Quero porque estava a sentir-me viva e com vontade de viver algo assim...
- E de repente... Tudo acaba? Tem de acabar?
- ... Ainda nem tinha começado...
- Sinto-me estúpida por não me conseguir controlar.
Olhei para ela depois de ter resolvido responder, ganhando tempo para pôr a cabeça em ordem. Mas o que saiu foi estúpido:
- Isso passa, está descansada que isso passa. Já passei pelo mesmo.
BOLAS!! Só depois de ouvir o que disse é que me apercebi da m#$%a que tinha feito. Minimizei os sentimentos dela.
Não consegui fechar a boca a tempo. O mal foi feito.
Ela calou-se e eu acabei por fazer o mesmo, tentando perceber o que se estava a passar. Comigo, não com ela, pois isso está bem claro.
Ela está perdidamente apaixonada e não é correspondida.
Agora encontra-se numa encruzilhada onde a razão e a emoção disputam o lugar cimeiro. Sente-se perdida e confusa por não reconhecer como dela o reflexo que o espelho mostra. Sente-se cansada por não conseguir calar as vozes da razão e da emoção que lhe vão dizendo, de forma contraditória, o que fazer com tanto sentimento. Não tem fome, nem forças para se alimentar. Tem sono, mas não consegue dormir. Tem medo da sua vontade de sentir, tem medo de vir a viver estes sentimentos com 'um alguém', que não é 'o alguém' que os fez nascer.
Além do mais precisa de expressar tudo o que sente, tudo o que fez, quis fazer e não fez, para conseguir obter uma resposta lógica a tudo o que se passa e desta forma descobrir o que tem de fazer para acabar com o sofrimento. Mesmo sabendo que é improvável isso acontecer, tem que encontrar algo a que se agarrar.
Mas e comigo? O que se passa comigo?
Não me ter conseguido colocar no lugar dela confundiu-me. Para mim, pelo menos de momento, toda esta dramatização (natural) de sentimentos não faz sentido. Sei, por experiência própria, que o tempo se encarrega de apaziguar os sentimentos, mas também sei, por esta mesma experiência, que quando os sentimentos estão em ebulição não é isso que queremos ouvir.
Sei o quão violento é não nos reconhecermos, acharmo-nos vazios e completamente diferentes do que sempre fomos. Mas sem quê, nem porquê a minha reacção foi de uma frieza preocupante. E isso fez virar o meu pensamento para mim.
Apesar de me estar a sentir bem na minha pele e de estar em equilíbrio emocional, dei conta que tenho saudades de estar em conflito com os meus sentimentos, de me sentir um pouco mais viva, mais confusa, de sair deste equilíbrio emocional confortável que o apaziguar de sentimentos antigos me trouxe, deixando para trás a cómoda cadeira do "na'tece". Tenho que perder o receio de voltar a viver experiências que despertam sentimentos que sei não poder controlar.
Tenho muitos desabafos, desta época de desequilíbrio. Desabafos tão viscerais que ainda hoje mexem comigo. Mas não servem de nada. Os sentimentos dos outros não nos dizem nada, porque não são por nós vividos. Mas deixo um pequeno recado, para ela e muito mais para mim.
Vive cada sentimento como sendo único. Sente-o como um todo, porque terás uma única oportunidade de o sentir assim. Os dias vão passar, uns menos maus, outros maus, outros muito maus e outros pessimamente maus. Haverá semanas em que te sentirás a 100% e pronta para enfrentar o mundo, outras em que só vais querer fugir, outras ainda em que quererás dormir para só acordar quando a dor e saudade passarem.
Sem dares conta, os dias passaram a semanas, as semanas a meses e os sentimentos arrefeceram.
'O alguém' deixa de fazer sentido, deixa de ser 'o alguém' por quem te apaixonaste e sofreste. Está diferente, assim como tu também estás. Esta tomada de consciência, mais uma vez vai reacender sentimentos contraditórios, mas agora, se calhar, por não mais de 5 minutos. Já que te apercebeste que o tempo passou e tudo mudou: o sentimento foi apreendido, o sofrimento apaziguado, a mágoa apagada e a tua vontade renascida.
Cresceste, encerraste uma fase e iniciaste outra. a raiva e o descontrolo passaram, transformando-se em paz interior.
O que sentes já não serve de nada? Serve, serve para ver que nada se perde...
- O que é que faço a tudo isso que sinto? Pego e deito fora? Já não serve para nada.
Paralizei face ao sarcasmo usado para tentar iludir os sentimentos. E enquanto pensava se deveria responder ela continuou:
- Eu não quero isso. Eu quero viver tudo isto que sinto...
- Quero porque estava a sentir-me viva e com vontade de viver algo assim...
- E de repente... Tudo acaba? Tem de acabar?
- ... Ainda nem tinha começado...
- Sinto-me estúpida por não me conseguir controlar.
Olhei para ela depois de ter resolvido responder, ganhando tempo para pôr a cabeça em ordem. Mas o que saiu foi estúpido:
- Isso passa, está descansada que isso passa. Já passei pelo mesmo.
BOLAS!! Só depois de ouvir o que disse é que me apercebi da m#$%a que tinha feito. Minimizei os sentimentos dela.
Não consegui fechar a boca a tempo. O mal foi feito.
Ela calou-se e eu acabei por fazer o mesmo, tentando perceber o que se estava a passar. Comigo, não com ela, pois isso está bem claro.
Ela está perdidamente apaixonada e não é correspondida.
Agora encontra-se numa encruzilhada onde a razão e a emoção disputam o lugar cimeiro. Sente-se perdida e confusa por não reconhecer como dela o reflexo que o espelho mostra. Sente-se cansada por não conseguir calar as vozes da razão e da emoção que lhe vão dizendo, de forma contraditória, o que fazer com tanto sentimento. Não tem fome, nem forças para se alimentar. Tem sono, mas não consegue dormir. Tem medo da sua vontade de sentir, tem medo de vir a viver estes sentimentos com 'um alguém', que não é 'o alguém' que os fez nascer.
Além do mais precisa de expressar tudo o que sente, tudo o que fez, quis fazer e não fez, para conseguir obter uma resposta lógica a tudo o que se passa e desta forma descobrir o que tem de fazer para acabar com o sofrimento. Mesmo sabendo que é improvável isso acontecer, tem que encontrar algo a que se agarrar.
Mas e comigo? O que se passa comigo?
Não me ter conseguido colocar no lugar dela confundiu-me. Para mim, pelo menos de momento, toda esta dramatização (natural) de sentimentos não faz sentido. Sei, por experiência própria, que o tempo se encarrega de apaziguar os sentimentos, mas também sei, por esta mesma experiência, que quando os sentimentos estão em ebulição não é isso que queremos ouvir.
Sei o quão violento é não nos reconhecermos, acharmo-nos vazios e completamente diferentes do que sempre fomos. Mas sem quê, nem porquê a minha reacção foi de uma frieza preocupante. E isso fez virar o meu pensamento para mim.
Apesar de me estar a sentir bem na minha pele e de estar em equilíbrio emocional, dei conta que tenho saudades de estar em conflito com os meus sentimentos, de me sentir um pouco mais viva, mais confusa, de sair deste equilíbrio emocional confortável que o apaziguar de sentimentos antigos me trouxe, deixando para trás a cómoda cadeira do "na'tece". Tenho que perder o receio de voltar a viver experiências que despertam sentimentos que sei não poder controlar.
Tenho muitos desabafos, desta época de desequilíbrio. Desabafos tão viscerais que ainda hoje mexem comigo. Mas não servem de nada. Os sentimentos dos outros não nos dizem nada, porque não são por nós vividos. Mas deixo um pequeno recado, para ela e muito mais para mim.
Vive cada sentimento como sendo único. Sente-o como um todo, porque terás uma única oportunidade de o sentir assim. Os dias vão passar, uns menos maus, outros maus, outros muito maus e outros pessimamente maus. Haverá semanas em que te sentirás a 100% e pronta para enfrentar o mundo, outras em que só vais querer fugir, outras ainda em que quererás dormir para só acordar quando a dor e saudade passarem.
Sem dares conta, os dias passaram a semanas, as semanas a meses e os sentimentos arrefeceram.
'O alguém' deixa de fazer sentido, deixa de ser 'o alguém' por quem te apaixonaste e sofreste. Está diferente, assim como tu também estás. Esta tomada de consciência, mais uma vez vai reacender sentimentos contraditórios, mas agora, se calhar, por não mais de 5 minutos. Já que te apercebeste que o tempo passou e tudo mudou: o sentimento foi apreendido, o sofrimento apaziguado, a mágoa apagada e a tua vontade renascida.
Cresceste, encerraste uma fase e iniciaste outra. a raiva e o descontrolo passaram, transformando-se em paz interior.
O que sentes já não serve de nada? Serve, serve para ver que nada se perde...